terça-feira, 25 de março de 2008

Cadê o jornalismo?

Por Tamires Santos
Em entrevista coletiva publicada na revista Caros Amigos deste mês de março, o jornalista Luis Nassif coloca em cheque a ética jornalística e a linha editorial de uma revista de renome no mercado nacional. O jornalista denuncia que na redação do veículo, já houve inversão dos dados de uma pesquisa feita pelos jornalistas Pompeu de Souza e o D’Alembert Jaccoud.

O ex-profissional da determinada revista detalha que apesar da pesquisa realizada comprovar que o candidato a presidente pelo MDB, Euler Bentes General, tinha uma votação boa no Congresso contra o candidato João Baptista Figuereido, a revista simplesmente, inverteu os números, manipulou a informação para demonstrar o contrário. Segundo Nassif, os jornalistas que se sentiram lesados organizaram um abaixo assinado, mas, a luta pelo vigor jornalístico resultou em uma demissão em massa dos profissionais da redação.

Sobre isso, ouso pronunciar que o capitalismo é como um polvo com vários tentáculos que agarram todas as relações sociais, transformando tudo em mercadoria, inclusive o trabalho jornalístico.

Este relato remete a discussão sobre a ética e a objetividade jornalística tão discutidas atualmente nos bancos das Universidades, e que por vezes, são silenciadas por profissionais submissos a linha editorial de algumas empresas que percorrem uma desenfreada corrida pelo capital.

Por vezes, as virtudes do jornalismo são reféns do sentimento de propriedade que alguns veículos de comunicação exercem sobre as informações. A realidade da determinada revista que circula em âmbito nacional e que vende milhões de exemplares nas bancas, retrata que algumas empresas se rendem aos apelos do mercado, infiltrando inverdades, omissões, ou terminologias sensacionalistas e antiéticas, só simbolizam a busca pelo lucro.

Enquanto os jornalistas Pompeu de Souza e o D’Alembert Jaccoud seguiram a risca o que está presumido no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, quando diz que “o profissional não deve submeter-se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação”, o veículo, em uma atitude ditatorial findou demitindo os jornalistas que defenderam a veracidade e legitimidade da notícia.

Ao que parece, a ética jornalística e a moral do determinado veículo entraram em conflito. O código de ética admite que o jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros. Mas, contrariando a teoria, Luis Nassif denuncia que os profissionais eram perseguidos na própria redação do veículo, por defenderem a verdadeira versão dos dados da pesquisa.

Por essa e outras contradições relatadas na coletiva concedida a Caros Amigos, o jornalista corajosamente age como portador da voz de tantos outros profissionais, principalmente quando questiona: “Cadê o jornalismo”?

12 comentários:

Anônimo disse...

Olá Tamires! Venho mais uma vez participar deste importante debate sobre a ética no Jornalismo, que você nos proporciona com mais uma ótima abordagem jornalística.

A denúncia do Luiz Nassif, para mim que milito no Jornalismo há pouco mais de 12 anos, não me causa nenhuma surpresa. O que aconteceu naquela época, certamente continua acontecendo nos dias atuais, por que a mídia hoje é mais capitalista do que nunca, pelo capital ela é capaz de qualquer coisa. Não duvide.

Enquanto não acabarmos com esta maldita cultura de que a imprensa tem que ser totalmente independente, ou seja, livre pra falar o que bem quer e entender, estando certa ou não, nós nunca vamos ver um Jornalismo ético, cidadão, comprometido com o bem da humanidade e a verdade dos fatos acima de qualquer coisa, como prega a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). É preciso termos a coragem de falar, dentro das nossas limitações, que o Jornalismo de hoje, se é que um dia ele já foi diferente, mais destrói que constrói.

Rezo com o pensamento da FENAJ e dos seus Sindicatos filiados de que o Jornalismo precisa de um conselho: um Conselho de Jornalismo para se auto avaliar, educar, cumprir com a ética profissional, mesmo com a discordância do patronato.

Um Conselho Federal de Jornalismo ou de Jornalistas, como queiram, não resolveria tudo, mas pelo menos traria mais respeito e dignidade aos milhares de jornalistas espalhados por este país afora que são constantemente desrespeitados, seja em sua obra intelectual, ou em sua essência como operário da comunicação.

São esses e outros fatores que me fazem enxergar que o Jornalismo que sonhei está cada vez mais distante dos meus olhos. Ou continuaremos na luta por um Jornalismo de verdade, não aceitando a farsa que aí se encontra, ou mudamos de profissão. A escolha é nossa.

Parabéns pelo seu ótimo texto jornalístico e pela sua brilhante abordagem.




Paulo Sousa – Graduado em Jornalismo, diretor de Jornalismo da 103 FM, editor do Portal 103, e editor da Revista Lojistas & Cia.

Anônimo disse...

Oi Tamires
seu blog está muito massa, reportagens muito interessantes.

No texto "cadê o jornalismo" me identifico com nada mais, nada menos, que a tal liberdade de imprensa, até onde a liberdade deve ser concedida, afinal a liberdade não deve ser total, tendo sempre estabelecido um critério, de até onde os jornalistas, podem chegar, sobre o que devem falar, para que assim se chegue a ética necessária nesse campo.

Fernando Augusto disse...

Fale que a revista é A Veja, ou, "Não Veja", publicação de publicidade recheada de mentiras que envergonham nossa classe.

Ainda bem que temos heróis que lutam por limpar um pouco o nosso nome.

Se tivéssemos uma classe mais unida e nosso conselho, regulamentando a categoria, talvez estes absurdos não ficassem impunes.

Anônimo disse...

Sim, Paulo, concordo com sua opinião, a Tamires foi muito feliz na abordagem deste assunto. A gente que não faz parte da imprensa pensa uma coisa diferente dela, mas quando essa realidade nos chega, muito nos entristece. Valeu Tamires pelo artigo, excelente reflexão da mídia do Brasil.


João Vieira - estudante de Publicidade

Valter Lima (@valter_jornal) disse...

Demorou mais chegou hein?! Ótimo texto, abordagem correta e conveniente!

E reforço o principal questionamento de seu texto: Cadê o Jornalismo? Cadê o Jornalismo com "J" maiúsculo, feito por profissionais comprometidos com a função social que a instituição exige? Cadê os jornalistas que apaixonados pela profissão e pela informação prezam pela veracidade dos fatos e a neutralidade das abordagens? Onde podemos encontrar o verdadeiro Jornalismo, comprometido com as questões sociais e sendo ponto de partida para a discussão de questões pertinentes às realidades? Realidade do homem simples, da dona de casa, da criança em situação de rua, do empresário, do eleitor, do cidadão...

Anônimo disse...

Cada vez que revelações chegam sobre o que está por trás da mídia, me dá nojo, é por isso que já estou mudando de profissão. Pra ser jornalista que não tem independência pra dá um não ao patrão, um jornalista que não pode colocar em prática um jornalismo verdadeiro, social, do bem, melhor não ser. Talvés em outra profissão que lide com a coletividade, com pessoas, que não o jornalismo, eu possa me encontrar e ser um profissional feliz de verdade.


André Mesquita

Anônimo disse...

A mídia do Brasil é realmente horrível, pobres dos jornalistas, esses são obrigados a fazer coisas que sua consciência e sua ética e moral familiar não querem. Ainda bem que eu não tive vocação por esta área, estaria hoje decepcionado. Jovem, parbéns mesmo pelo seu excelente artigo, já havia lido um outro seu no site da 103, e hoje posso dizer que sou um admirador seu. Parabéns mesmo pelo assunto discutido aqui.


José Henrique, funcionário público e estudante de Psicologia

Antônio J. Xavier disse...

Demorou a publicar de novo mas quando o fez. Arrasou no texto!
Concordo com absolutamente tudo... em especial com a "venda de almas" provocada pela busca de um lucro sem ética.
Mas...
O Luis Nassif é o cara mais indicado para fazer essas acusações?
Sei não.
A idéia está toda correta...
Mas é a mesma coisa que ver o Lula criticar hoje em dia o FH...
Parece o sujo falando do mal lavado (me refiro ao nassif e não a vc, tenha certeza).
O texto é 10...
Em especial porque faz pensar.
Bjoss

Anônimo disse...

eu não sei se detono a veja ou seus imitadores que pra falar dela fazem as mesmas coisas.
muuuuuuuito bem Tamires!!!

Anônimo disse...

A Veja é uma revista golpista, sempre defendeu a interferência do nosso país pelos americanos, esteve junto ao Golpe Militar de 64, então o que vem da Veja não é surpressa nenhuma, este revista é contra a nossa soberania, é contra o povo brasileiro, contra a dignidade de seus trabalhadores.

Excelente narrativa, texto nota 10.


Hugo Henrique, estudante

Anônimo disse...

Concordo com tudo que disse Hugo, a Veja ninguém merece. Aproveito pra pedir que ninguém leia a Veja, ela é contra os trabalhadores, contra o Brasil. A jornalista que escreveu esta matéria, falou e falou muito bem. Ótimo texto.




Fernando Lemos

Anônimo disse...

Cadê o Jornalismo? Texto de uma opinião e de uma abordagem muito boa, excelente. Não me importa se o Nassif tem moral ao não pra fazer esta denúncia, o que importa é sua denúncia é um fato, e que as instituições que representam os jornalistas deveriam combater esse tipo de Jornalismo marrom. Lamento muito por esse tipo de Jornalismo existir em nosso país.



Max Augusto - professor