
Termina na próxima semana o prazo para a polícia concluir as investigações sobre a morte da menina Isabella Nardoni. Ela morreu no dia 29 de março após ser espancada, asfixiada e jogada da janela do 6º andar do prédio. O pai e a madrasta, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são os suspeitos do crime.
Ao retratar tantas vezes o assunto, faz-se um júri midiático, que atribui a sociedade o direito de “bater o martelo” e quase confere aos suspeitos a posição de “réus”. O tempo ancioso do jornalismo, parece não ser o mesmo tempo cauteloso necessário para o andamento dos inquéritos policiais.
Enquanto a mídia pressiona resultados de apenas mais um caso de violência contra o universo infanto-juvenil, muitas Isabellas são violentadas pela família, pela sociedade e pelo Estado todos os dias.
Profundas reflexões sobre a violência doméstica precisam vir à tona. Caso contrário, essa indiferença pode ser retribuída para a sociedade, por muitos meninos e meninas que têm seus direitos violentados.
Políticas públicas de combate a violência deveriam ser intensificadas pelo Estado e divulgadas pelos veículos de comunicação. Isso é também fazer bom uso do "quarto poder".
A sociedade não pode esquecer que as violações contra os direitos da criança e do adolescente são constantes. Tão constantes e tão repetitivas quanto a cobertura jornalística de algumas emissoras de televisão, ao tratarem de apenas um caso, em meio a um universo de meninos e meninas que gritam por socorro e padecem por falta de amor.
Se a violência continuar reinando, outras Isabellas correm o risco de desenvolverem comportamentos semelhantes aos de Cleverton Santos, apelidado de “Pipita”. Lembram? E o que fazer agora com as crianças que são violentadas com a mesma idade da Isabella e possivelmente até guardam para si o sentimento de desamor? E se outras crianças vítimas de violência desenvolverem a mesma conduta do adolescente Cleverton?
A psicologia explica que as vivências apreendidas durante a infância são registradas no subconsciente e marcam para sempre a personalidade de uma pessoa. E eu digo: a criança que é agredida hoje será o adolescente agressor amanhã.
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*A foto utiizada para compôr essa reportagem está disponível no site: http://kontrastes.org/retratos-sociais/infancia-roubada/ e não é de minha autoria.