sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Os Pequenos Ilegíveis

Por Tamires Santos
Descalços, vestindo camiseta regata e bermuda de cor desbotada, eles passam manhãs de sol, segurando as varas de madeira que usam como instrumento de manobra, ou mesmo vendendo balas de banana por R$ 1, 00. Os menores circulam pelas ruas mais movimentadas da cidade, fazendo parte de um universo infantil que é visto como “pedra de tropeço” para os dirigentes alvos da “cegueira” que é a única coisa que o capitalismo tem para oferecer gratuitamente.
Debaixo da sombra das árvores (isto, quando tem árvores), os olhares sombrios aguardam o semáforo simbolizar a parada dos veículos. As crianças saem da margem das avenidas por instantes, mas continuam inseridas em uma realidade social conhecida como marginalização. Mesmo tendo que pisar no asfalto quente com os pés descalços, e com aparência nada expectante, os meninos (ou meninas) saem do meio-fio, digo, lugar de descanso, com fome e talvez com poucos motivos para fazer malabarismo, mas mesmo assim o fazem.

Sem entusiasmo algum, eles “soam”a camisa na tentativa de se fazer acontecer à arte de manipular objetos mantidos no ar, no intervalo de tempo restrito, isto para impressionar os olhares que, muitas das vezes, são desviados.

Onde está o Criança Esperança? E o programa de erradicação infantil, cujo atendimento foi dito triplicado? Ação global, quando?Cadê a marcha global? A impressão que se tem é que só o dia 12 de junho é o único dia de combate ao trabalho infantil. É “tosco” um país investir tanto em tecnologia, enquanto o setor humano grita por socorro, e a acentuada desigualdade social, existe lado à lado.
De quem é a culpa?

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Entrada contemplativa. Saída Tortuosa

14 de novembro de 2006, às 19:30, véspera de feriado. Mesmo com minha fobia ao horário “de pico” fui “parar” no shopping Jardins, o sempre movimentado da cidade. Advinha fazer o que? Efetuar o pagamento de uma fatura. Bela programação não? Ao menos a decoração do Jardins “promete”isto.

Ainda no estacionamento, é notável o retorno dos famosos “piscas-piscas”, e estrelas luminosas distribuídas pelas paredes externas, que agora brilham sobre a textura alto relevo. Uma das portas de entrada para o shopping, decorada com guirlandas, é um sutil convite para “as compras”.

Ao som de “sinos, orquestras, e plim! plim!...”, os olhares naturalmente “rodeiam” por entre os bonecos de neves, cachos de bolas coloridas, festão, gnomos, arranjos pregados nos lustres da praça de alimentação. Como não pensar em ceia, com uma árvore de natal enorme pregada confronte a Baviera Haus?

O que antes era curioso, agora já não deixa de ser o previsível: no corredor das lojas Riachuelo, uma multidão de crianças e pais com algumas delas no colo, faziam “procissão”com a chegada do papai Noel sem trenó. Não faltaram homens de quase dois metros de altura, formalmente trajados, garantindo a segurança do “bom velhinho”.

Chego às lojas. Passo pelo “portal das representantes” que perguntam o que também já é previsível: “Já tem o cartão Riachuelo”? Estou certa que ao passar por ali, independente da quantidade de vezes ao mesmo dia, elas repetirão a mesma frase, experiência própria. Subi os degraus das escadas e já ao som de “Então é natal...”, cheguei ao caixa, e ao ser atendida, fiquei entorpecida pelos juros da minha fatura alguns “diazinhos” atrasada.

Depois do “desfalque” planejei comprar folhas de papel rascunho à vulso para o término de um trabalho, no entanto, só vendem em “xamex”, (estratégia lucrativa) cujo preço corresponde a sete vezes mais do que daria se às lojas Barreto, no centro da cidade, ainda tivesse de portas abertas. Mais entorpecida, ao contar as moedinhas que me restaram, fui direto para o estacionamento carregando uma resma pesada de papéis e os dez centavos que me restaram.

Dei “adeus” ao cenário natalino. Caminhei com passos largos, segundo a minha vontade de descalçar meus pés do salto ─ isto, por ter me adaptado ao tênis ─ . Ao dirigir em direção à saída, me deparei com pedras sendo atiradas de um lado para o outro da rua. Temendo que eu e o “pimentinha” fôssemos atingidos, coloquei a marcha ré, mesmo na contra mão e dirigir para qualquer direção distante do cenário violento com plano de fundo natalino.

“Onde estaria os não sei quantos seguranças do bom velhinho, e o trenó”? Perguntei-me, pressionada por buzinadas alheias. Apressei-me na baliza, ao menos tentei. Inocentes colegas de trânsito...eles nem imaginavam o motivo, pelo qual eu estava na contra-mão.

Foi notável minha palidez, ao ouvir gritos e pronuncias de palavrões “atropelados” entre os dois “flanelinhas”, tive que admitir que a música clássica dentro do Shopping, os bonecos de neves, cachos de bolas coloridas, festão, gnomos, arranjos, os juros da fatura, o papel rascunho que não vendia à vulso, é realmente, uma bela programação diante daquele fato nada curioso, porém inusitado.

domingo, 12 de novembro de 2006

O preço "do novo".

Por Tamires Santos

Um supermercado está sendo inaugurado. Pronto! Isto já é motivo para metade da cidade se concentrar no bairro jardins. Outra filial da Rede Bompreço, é sinônimo de um estacionamento minúsculo lotado, os corredores da loja sendo disputados por consumidores sedentos de novidade, carrinhos, fotografias, pessoas circulando “para lá e para cá”, comprando o que se vende em todos os supermercados.

É certo que não é todos os dias que se ganha pipoca, e que se encontra um super... super...super alguma coisa, ─ personagem principal dos desenhos de cultura pop ─ recepicionando os clientes e distribuindo balões para os pequenos. A impressão que se tem é de queima de estoque ou fim dele.

O novo Bompreço é um supermercado que contém o mesmo que todos os outros: altos preços. Por isto, é previsível que as filas só estejam grandes nos primeiros dias de inauguração. Depois de algum tempo as pessoas sedentas do “novo” praticamente somem do local.
O número de carros diminue, as vagas sobram no estacionamento, mais um pouco de tempo e não haverá mais um homem fantasiado de super alguma coisa, distribuindo balões, muito menos promotoras de vendas sorrindo para todos. Não me perguntem quanto o “novo” custa que eu não saberei responder. O que sei, é que o efeito dele não dura por muito tempo.