domingo, 25 de janeiro de 2009

Pré-caju: desvendando a fantasia

Rompem-se de forma ilusória a verdadeira vida. Esquecem da crise financeira, do desemprego, do trabalho infantil, da violência dos tantos vícios dos quais depende a sociedade. A massa popular e até a elite abraçam a fantasia, enfrentam multidões para tocar no Cauã Reymond, enbebedam-se de uma alegria passageira que só alimenta a cultura de massa e enche os bolsos dos artistas que vivem do Glamor originado, principalmente pela Televisão, seguindo pela força da comunicação das revistas, do rádio, da moda e tantos outros valores que influenciam a vida do povo.
Dançarinas semi-nuas sobrem nos trios elétricos exibindo o "bumbum" e pousam para as lentes das câmeras. Dançam músicas que banalizam o valor do seu próprio corpo e estimulam a imaginação erótica masculina. Crianças brasileiras perdem a infância,amanhecem o dia catando latinhas jogadas no chão pelo povo, e pelos políticos também. Até os jornalistas se rendem de corpo, alma e voz, a adoração pelos artistas, como se eles não fossem pessoas normais só por quê cantam pagode e aparecem da televisão. Isso tudo, não podemos divulgar.

Mas, como jornalista e como pessoa, só aqui posso expressar minha misericórdia para com os vendedores ambulantes que pernoitam nas calçadas, com lençois finos e expostos ao frio. Só aqui, posso noticiar a compaixão que sinto pelas crianças que trabalham enquanto todos se divertem, que pouco têm o que vestir e precisam catar latinhas para comer melhor. Enquanto isso, milhões circulam para o bolso dos artistas, que fazem politicagem ao subir no trio, enaltecendo os gestores públicos. Claro, são eles que mantém, com o dinheiro do povo, " a maior prévia carnavalesca do Brasil", na "capital da qualidade de vida". Não é assim?
O Pré-caju é um cenário perfeito para o consumo de drogas, onde seres humanos tentam se esconder por traz de prazeres. Onde beijos e corpos são prostituídos. Não falo da prostituição envolvendo dinheiro, em que mulheres ficam a espera de clientes no Centro da cidade, depois das 22 horas. Falo da renúncia do amor próprio, do respeito aos sentimentos, do pouco valor que as pessoas estão dando pra si mesmo e para o outro.


ALIENAÇÃO

Assim, como Max Weber, vejo que a mídia, e os valores que ela impõe induz comportamentos, aliena pessoas, alimenta a riqueza de um nicho de empresários e cúpula de artistas que acumulam renda, em troca dessa tal alegria distribuída no chamado corredo da folia. Tão distante da verdadeira alegria, tão distante da verdadeira paz, da verdadeira vida, dos verdadeiros sentimentos que nos fazem bem por dentro, e por fora. Tudo tão aparente, maquiado, passageiro. Tão passageiro como um trio, uma banda, um bloco, um abadá.

3 comentários:

Anônimo disse...

O que vemos hoje é a mesma política do "pão e circo" da Roma antiga. Pouco mudou.
Sejam nessas festas para massas ou nos nossos "coliseus" de futebol, somos cegados ou nos deixamos cegar para o se encontra atrás das cortinas. Mas não culpo quem se deixa levar, afinal quantos têm suporte emocional para a visão constante da realidade (inclusive a própria)? No entanto, se se quer alguma mudança, a visão é necessária. E para isso, a meu ver, a educação de qualidade é fundamental.
Por enquanto, cabe-nos criticar os nossos césares (mas com cuidado para não acabar sendo lançado aos leões :P).

DocHo

Anônimo disse...

Tamires, mais uma vez quero aqui te parabenizar pelo excelente artigo. Você foi muito feliz em suas colocações. Desvendou de forma brilhante o verdadeiro significado do Pré-Caju.

Enfim, não tenho muito o que comentar, pois seu texto dispensa qualquer comentário. Parabéns.


Paulo Sousa - Jornalista

Daniel Carlos disse...

A primeira vez que olhei o espetáculo desta maneira foi em um reveillon, que enquanto o povo assistia com a cabeça erguida ao show da queima de fogos, meninos abaixavam a cabeça em busca de latas para garantir a própria sobrevivência.

A política de "pão em circo" parece que está longe de acabar. Enquanto houver diversão "grátis" (entre aspas porque na verdade sabemos quem paga), o povo esquece de todos os problemas.

É importante ressaltar que o termo "povo" é para todos; muitas pessoas que são esclarecidas se entregam ao prazer de alguns pulos ao lado do trio elétrico, feliz por ter comprado o seu abadá, pouco importando se tem gente que usa os "bastidores" da festa pra sobreviver. E pior que os políticos chamam isso de "geração de emprego"