quarta-feira, 20 de junho de 2007

INFORMAÇÃO FABRICADA

Por Tamires Santos

Obscurecimento da realidade, divisão de classes, trabalho fragmentado. Turva percepção: efeito da ideologia dominante. Como um barro nas mãos do oleiro, o futuro jornalista acata um paradigma de formação ditado pelas Universidades e transforma-se, pouco a pouco, em um aparente instrumento técnico de atuação profissional, fabricando as informações que antes eram reais, e que no texto, passam a ser uma interpretação. A análise de uma análise feita por um cidadão comum, além de jornalista.

Semelhante ao processo de produção industrial em série, nascem gerações sucessivas de robóticos profissionais de comunicação revestidos com uma armadura falsa: anônimos, formais, neutros, objetivos, impessoais. Isso para atender as necessidades ditatoriais do mercado de trabalho, ou ainda, para atingir os interesses de uma cúpula social que rege o discurso da mídia. Aquela cúpula, que o doutor em comunicação da ECO/UFRJ, Mohammed El Hajji chama de “quarto poder“.
A fragmentação do trabalho jornalístico mal disfarça que desde a escolha do fato a cobrir, passando pela escolha dos entrevistados, os critérios da seleção dos discursos, até a edição e diagramação da matéria, a interpretação está interligada com a informação. Com base no teórico Mohammed, a própria escolha de qual fato irá cobrir, já é uma atitude imparcial. Ou seja, o ato de fazer uma escolha é um ato de interpretação, mesmo quando existe informação. A diferença, é que a interpretação implícita constitui a informação, matéria prima do ofício de jornalista.O perfil do público consumidor destinado pelo veículo, também já pressupõe, por exemplo, a seleção dos entrevistados, a elaboração das perguntas, o enfoque.

O que Mohammed diz sobre o processo discursivo narrativo é que “o que era uma experiência de campo fragmentada e diversa, acaba sendo retratada como um todo coerente e integrado”. Nesta e em outras reportagens, como por exemplo, a do dia 16 sobre o aumento da violência no bairro Robalo em Aracaju, o contexto sinaliza quem está com o poder no momento da fala, e isso o verbo dicendi por si só, não demonstra ao leitor.

Trabalho jornalístico é pesquisa, observação, interação, análise, mas também concepção, interpretação, e produção de significado e de sentido. O texto, o discurso, a fala, a linguagem são recursos necessários para a fabricação da informação, representada através de estratégias discursivas de enunciação. Estas que nas páginas nas folhas da imprensa, transmitem ao leitor a áurea de distanciamento entre o jornalista e as testemunhas oculares, por exemplo.

Em uma sociedade que se desenvolve, passando por crises econômicas, políticas e sociais, a informação é a grande ágora de intermédio entre as classes sociais. Claro, esse recursos jornalísticos são empregados, inclusive, por outros diversos veículos, inclusive, pelo Telejornalimo.

Verdade e objetividade são palavras chaves, inclusive, presentes em praticamente todos os códigos de ética de jornais e jornalistas, também nas legislações de comunicação social de dezenas de países. Conhecer os mecanismos de fabricação da informação permite ao leitor a capacidade de decodificação do seu conteúdo e o reconhecimento do jogo de interesses que se filtram nas notícias por meio das estratégias discursivas de enunciação.

5 comentários:

Apresentação disse...

As armaduras de falsa neutralidade para os novos robôs que estão se formando já estão à venda nas melhores universidades e diretórios políticos!!Adquira já a sua se quiser pregar sua ideologia ou a dos outros sem ser muito notado!!!

Passa lá no meu blog para continuar esse debate...abraços!

Fernando Augusto disse...

Rapaz, to vendo uma nova mestre universitária vindo por ai. Propondo conceitos e discutindo profundamente a atuação da impresa. Muito bom, parabéns pelo nível! Continue querida, tu tens muito Talendo.

analise ia disse...

muito bem! neutralidade, robôs, mitos se combinam tal qual engrenagens as máquinas.

Paulo Sousa disse...

Posso dizer baseado não simplesmente nos conceitos dos mais importantes teóricos, mas principalmente baseado na minha própria experiência profissional que a neutralidade, a imparcialidade no Jornalismo não existe e jamais existirá, a não ser que o Jornalismo deixe de ser Jornalismo. A parcialidade, como bem retrata o texto, está em toda a escrita, a começar pela pauta. Portanto, assim como não há liberdade de imprensa - para falar a verdade - também não há imparcialidade em uma matéria jornalística, você pode até não opinar, mas a sua intenção já havia sido demonstrada na própria escolha da pauta e nas perguntas formuladas.

O texto retrata uma realidade que muitos colegas jornalistas insistem em não querer acreditar.

Parabéns Tamires pelo tema e pela sua contextualização.


Paulo Sousa - Jornalista

Anônimo disse...

De muito boa grata esta reflexão. Nós tamos num mundo de imaginação, se imagina fazer imprensa livre, mas não se faz, o sistema não permite.

A autora deste artigo, digo que foi de muito bom gosto essa discussão, nos levou a uma análise mais lógica a respeito do verdadeiro papel da imprensa.

É por isso que os psicólogos e tantos outros profissionais da saúde, defendem uma fiscalização da imprensa. O psicólogo Dr. Rubens Firkson já dizia que tudo que está solto, sem nada que o controle é um perigo, uma ameaça, a imprensa não é diferente.

Fui orientado a entrar neste site por um amigo e ler este artigo, achei muito interessante. A sua autora, meus parabéns.



Dr. Moacir Alburquerque - psicólogo - Recife - PE.